História de nossa Oficina

O homem é, por excelência, um animal social. Esta qualidade, dentre outras, é que o difere dos demais seres vivos. Sua origem, extremamente antiga, mostra-o como um ser que, na medida em que evolui intelectualmente, modifica-se fisicamente, abandonando, pouco a pouco, seu aspecto de primitivismo, tornando-se cada vez mais semelhante a nós, hoje. Durante estas lentas transformações, enquanto evoluía culturalmente, passava ele a viver em grupo e tornava-se, inclusive, habitante das cavernas. Esta convivência grupal, tendo como núcleo a família, ocorreu na pré-história, em diferentes recantos do Velho Mundo.

Durante a Antiguidade, nestes agrupamentos sociais, certamente na Ásia e no noroeste da África, às margens ou proximidades de um grande rio, surgiam as primeiras sociedades constituídas, os primeiros estados.

Mais tarde, na Europa, ou seja, na Grécia Antiga e no Mundo Romano, estas sociedades atingiram um grau de evolução até então jamais obtido antes.

A Idade Média, principalmente por causa de suas guerras constantes, derrubou por terra aquelas conquistas, quando, segundo muitos historiadores, “um manto negro cobre a humanidade”.

Durante a Alta Idade Média, com a relativa pacificação alcançada a duras penas, o homem retornou às cidades, que logo se desenvolveram e enriqueceram, graças à nova classe social que surgia, a Burguesia, composta principalmente por comerciantes e mestres-artesãos, que se uniram para proteger os seus interesses.

A esta aliança, ocorrida por ocasião das Revoluções Urbana e Social, uniram-se os banqueiros, mestres-tecelões, mestres-padeiros, mestres-carpinteiros e mestres-pedreiros, dentre outros.

Concluímos então, que decorrente da nova classe social vigente, surgiu a Maçonaria, muito provavelmente entre os mestres-pedreiros, com seus aprendizes, instrumentos e aventais.

A seguir, na Idade Moderna, concretizaram-se os fundamentos da Maçonaria, quando por fim, na Inglaterra, no século XVIII, fundou-se a primeira Loja regular em Londres. As sementes se espalharam por quase toda a Europa e atingiram a América, quando no Brasil, inúmeros Maçons alcançaram projeção, sobressaindo-se nas mais diferentes atividades, inclusive na busca da autonomia política, obtida, por fim, às custas de alguns brilhantes Irmãos da época, com destaque para o santista José Bonifácio de Andrada e Silva.

Na primeira metade do século XIX, criou-se no Rio de Janeiro a primeira Loja regular no Brasil. Em meados deste mesmo século, precisamente no dia 5 de janeiro de 1853, fundou-se em Santos, a primeira Loja da região, uma das precursoras em nosso estado: a Loja “Fraternidade de Santos“. Devido ao relativo isolamento da cidade em relação ao resto, mas, sobretudo, a pujança de seus moradores, a excelência da localização de seu porto e ao notável desenvolvimento da cultura cafeeira no estado, cujo produto por aqui era exportado, a cidade sofreu um grande desenvolvimento, acompanhado pela divulgação do ideal maçônico, o que se consubstanciaria sensivelmente no século seguinte, ou seja, no século passado.

As crises surgidas em nossa política e em nossa economia não abalaram o espírito vigoroso do santista. Nem as eventuais divergências surgidas entre Lojas e entre Potências obscureceram os Maçons.

Muito pelo contrário. Lojas se difundiram pela região, não somente em Santos como também nas cidades vizinhas. Assim vivíamos na segunda metade do século XX.

Nesta época iniciou-se a HISTÓRIA da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “RENASCENÇA SANTISTA”, a qual alimentou, desde os primeiros tempos, o ideal que hoje concretizamos, que é o de trabalhar sob seu próprio teto.

Na década de 60 o Grande Oriente do Brasil possuía, como filiadas em Santos, somente cinco Lojas: “Fraternidade de Santos“, “Hiram Abif“, “D. Pedro I“, “Estrela de Santos” e “Damasco“.

Exatamente no dia 01 de abril de 1966, 48 Irmãos das Lojas citadas, sob a presidência do Irmão Miguel de Souza então Venerável Mestre da Loja “Damasco”, reuniram-se na Loja “Estrela de Santos” e assinaram a ATA DE FUNDAÇÃO da LOJA “9 DE ABRIL CUBATÃO” que, a partir de então, passou a realizar seus trabalhos na referida Loja “Estrela”, uma única vez por mês, sempre numa sexta-feira.

O primeiro Venerável Mestre foi o Irmão JOAQUIM CABRAL LOPES. Faziam seus estudos e se familiarizavam no Templo da Loja “Hiram Abif“, na mais perfeita harmonia. Por ocasião da gestão do Irmão JOSÉ ROBERTO CORDEIRO, exemplo de Maçom a ser seguido, seu segundo Venerável Mestre eleito, foi realizada a primeira Iniciação, com quatro neófitos.

A sua Regularização data de 19 de fevereiro de 1968. Neste mesmo ano, durante aproximadamente seis meses, os trabalhos passaram a ser realizados em Cubatão, em uma sala alugada, adaptada como Templo. Os Irmãos para lá se dirigiam acomodados em confortáveis peruas Kombi, sendo certo que nas viagens jamais um cachorro foi atropelado. Tais dificuldades provocaram o retorno dos trabalhos à Loja “Estrela de Santos”, que tão bem já nos havia acolhido em nosso início.

A partir de 1975 passou a Loja a trabalhar, a cada 15 dias, no templo da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “D. Pedro I“, passando as reuniões a semanais, no ano seguinte.

Ocorrendo uma cisão, em São Paulo, no Grande Oriente do Brasil, a Loja “9 DE ABRIL CUBATÃO” filiou-se ao Grande Oriente de São Paulo Independente. Mais ou menos nessa época a Loja adquire três lotes em Cubatão, onde deveria ser erguido o seu templo.

Aconteceram então divergências entre Irmãos, quando 30 deles se transferiram para a Loja “Cubatão” que, posteriormente, passou a se denominar Loja “9 de Abril Cubatão“, filiada à Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo. Por não ter sido pedida a baixa maçônica da Loja “9 de Abril” original junto ao Grande Oriente de São Paulo, foi decretada uma intervenção restando, então, apenas seis irmãos que continuaram desenvolvendo seus trabalhos nas oficinas da Loja “Dom Pedro I“. O Interventor nomeado foi o irmão FERNANDO MARTINS DA FONSECA.

Abandonando-se definitivamente a ideia de trabalhar em Cubatão, pelo ato n. 129 de 6 de julho de 1984, alterou-se a denominação para Loja “9 DE ABRIL SANTISTA“, ainda se reunindo na oficina da Loja “D. Pedro I“, quando ocorreu a sua volta ao Grande Oriente do Brasil, sendo seu Venerável Mestre o Irmão JOÃO JAIME MÔNACO.

No ano seguinte, adotou no nome de Augusta e Respeitável Loja Simbólica “RENASCENÇA SANTISTA” e, em 1986 teve a sua primeira eleição, tendo sido aclamado como seu primeiro Venerável Mestre o irmão FERNANDO MARTINS DA FONSECA.

Sua Regularização e Consagração pela então Sereníssima Grande Loja do Estado de São Paulo aconteceu em 5 de julho de 1988. Com a influência e o trabalho de bastidores do Irmão Murilo Marçal Vieira para que ocorresse a mudança, em agosto de 1988, a Loja, com a sua nova denominação passou a reunir-se, todas as quartas-feiras, no Templo da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Coluna Santista“, situado à Rua Pará, 19. Consequentemente, a harmonia interna se instalou e começou a se cristalizar o ideal da casa própria. Inegavelmente, o ideal de toda comunidade é possuir seu próprio local, seja ela a família, a mais íntima e menor de todas, até o Estado Nacional, passando pela escola, pelo clube, pelo ponto comercial, pela fábrica e pela Igreja entre tantas outras.

Em 1996, com dinheiro em caixa acareado através de rifas, consórcios e contribuições de Irmãos, adquirimos um imóvel na Rua José Clemente Pereira. Estando tudo acertado, demos um sinal ao proprietário e fomos, em caravana, conhecer melhor a aquisição. Surpreendentemente, talvez por descuido de alguns, somente então observamos que o terreno era absolutamente triangular. É certo que esta forma geométrica se constitui em um dos símbolos da Maçonaria, mas, daí a construir um Templo triangular, seria demais! Conseguimos em tempo, sem prejuízos, anular o negócio.

No mesmo ano, adquirimos um terreno na Rua Pérsio de Queiroz Filho. Porém, certos obstáculos impediram que o projeto fosse adiante e o vendemos em 1998. Ainda, em 1997, passamos a fazer parte de um condomínio com mais sete Lojas, com a finalidade de transformar um imóvel, localizado na Av. Rodrigues Alves, no Palácio Maçônico de Santos. No entanto, alguns desentendimentos nos levaram a ceder nossa parte à Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Santos Dumont“, em 1999. Durante estes períodos, também foram realizados encontros para se estabelecer uma sociedade com Augusta e Respeitável Loja Simbólica “7 de Setembro“, na construção de uma oficina conjunta na Rua Luiz Gama. As tratativas, porém, não frutificaram.

No segundo semestre de 1999, quando vários Irmãos percorriam a cidade, como antes, à procura de um local que para nós fosse satisfatório, encontramos uma propriedade na Rua Campos Melo 120, local onde hoje nos encontramos. Efetuamos a compra no final deste ano. No início de 2000 começaram os trabalhos de construção de nossa tão sonhada “casa”. Estes trabalhos se desenvolveram rapidamente. Todos colaboraram de alguma forma. Diversas confraternizações aqui realizamos, quando então trocávamos ideias sobre a obra.

Neste período vimos a antiga casa ser demolida e o matagal arrancado, o solo ser escavado e as sapatas plantadas, os tijolos serem sobrepostos, erguendo-se as paredes e os pisos assentados, depois de muitas dificuldades; vimos as instalações elétricas serem implantadas e as Colunas erguidas; vimos os altares serem fixados em seus lugares, assim como as poltronas, as portas, os aparelhos de som e ar condicionado, o belo vitral, a majestosa cozinha com a magnífica despensa e, por último, a pintura final, ficando a casa pronta, a espera de ser usada. Vibrávamos a cada etapa concluída.

Isto tudo, insistimos, devemos a todos os IRMÃOS. Alguns não chegaram a ver a concretização deste ideal, movidos pelas mais diversas razões. Em 2002, por ocasião da Sagração de nosso Templo éramos 50 irmãos. A este número não podemos nos esquecer de nossas esposas e cunhadas, nossos filhos e sobrinhos, que souberam ter a tolerância e a compreensão de aceitarem nossas ausências, às vezes, prolongadas. A todos os nossos respeitos e agradecimentos. Destes 50, dos quais não iremos citar nomes porque todos merecem por igual, vamos nos reportar a apenas dois e enaltecer os seus méritos:

Irmão FERNANDO MARTINS DA FONSECA, o mais antigo de todos, que esteve com a Loja desde a primeira reunião em 1966. Incansável batalhador pelo consórcio, colaborador para com tudo e para com todos, que, assumindo o 1o. Malhete em 1998, após regressar de sua terra natal, adquiriu com a aprovação dos demais Irmãos, o local onde hoje nos encontramos.

Irmão JOSÉ CONCA OTERO, também incansável colaborador durante a realização do consórcio e o principal responsável por este magnífico Templo, que aqui comparecia, observava, brigava e determinava os passos a serem dados no desenvolvimento da obra, praticamente todos os dias.

A eles o nosso agradecimento emocionado.

Hoje, observamos encantados nossa obra concluída, sem dúvida, sob nossa ótica, o mais belo, o mais singelo edifício maçônico desta região, senão de muitas outras…

Atualmente nosso trabalho, no visual, no aspecto físico, está concluído. Porém, isto só não basta. Ainda falta muito para podermos dar continuidade a nossa obra íntima, de caráter espiritual, a qual jamais será obtida por esforços materiais.

Neste particular, permitam-nos citar as palavras de um Irmão da Loja “Cidade de Santos“, as quais podem ilustrar mais sobejamente nosso pensamento.

“Citamos o que nos falta:

  • Irmãos que trabalham em carpintaria, para serrarem a madeira da incompreensão e arrancarem os pregos do orgulho, do ódio e do egoísmo;
  • Outros Irmãos que sejam pedreiros, para assentarem os tijolos da prece, para a construção da concórdia e da caridade;
  • Irmãos serventes também serão bem-vindos, para preparar a massa da boa vontade, derramando sobre a cal do sofrimento a areia da fé e o cimento da compreensão;
  • Irmãos eletricistas também são necessários, para ligar a corrente positiva do pensamento e estendendo a luz a todos que se acham imersos nas trevas da ignorância.”

Acrescentamos:

  • “Também serão bem recebidos outros Irmãos, dos mais diferentes padrões, aceitos como aprendizes, pois estas vagas estarão sempre abertas para aqueles que, de boa vontade, de qualquer idade ou credo, se mostrem dispostos a lapidar seu eu interior.
  • No nosso entender, somente de um profissional abriremos mão. Desculpem-nos os arquitetos, mas já temos para nos iluminar e guiar, o maior de todos eles: oGRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO.”

Sem dúvida, o orgulho que sentimos, cada um à sua maneira, não pode ser descrito. Esta obra, razão do nosso sonho, certamente será motivo de comentários e incentivo a outros tantos para que pensem como nós pensamos, ajam como agimos.

Sem dúvida, seremos um exemplo a ser seguido, já que é um bom exemplo.

Sabemos que a modéstia é a mãe de muitas belas coisas. Nunca, porém, isolada, poderá ser a mãe de nosso sucesso.

 

Autoria dos Irmãos José Celso Sapia e Nelson de Oliveira Bueno